Comentário
O que é esse fenômeno em torno do filme da Barbie? Que loucura! Alguns comentários sobre essa grande jogada de marketing.
Eu, como qualquer garota classe média criada nos anos 60/70 tinha uma Barbie e muitas roupinhas, sapatos e acessórios, casa da Barbie…não tinha Ken, mas queria. Era um universo rosa com um toque bem americanizado (a boneca era magra e peituda, loira de cabelo liso e comprido, tinha olhos azuis e pele bege bem clara). Até criaram a Susy para disputar espaço, como uma boneca mais brasileira – tinha cabelo mais ondulado, mas ainda era loira e a pele bege clara, quadril mais largo e peito pequeno, mas não fez o mesmo sucesso. Eu tinha uma Suzy, que participava nas brincadeiras com a Barbie, sempre como coadjuvante.
Naquela época, brincávamos de boneca até os 10, 12 anos. Hoje parece que nem se brinca mais, ou só crianças bem pequenas. A gente criava todo um universo imaginário em torno da boneca, e o que eu não tinha, eu fazia: móveis e demais itens para compor os cenários das histórias que a gente criava. Era bem criativo! Minha própria Barbieland.
E agora, é bem curioso ver a galera toda alvoroçada com o filme da Barbie. Vi o trailer, acho que eu vou gostar e me divertir muito, mas eu tive minha Barbieland. E essa garotada que nunca nem viu uma Barbie real? De onde vem esse fascínio? Que marketing bem feito! Transformaram uma boneca que era símbolo WASP em algo legal para os descolados da hora!
Lá pela década de 70/80, para tornar a boneca mais ‘politicamente correta’, criaram outras versões: negra, latina, asiática. Até o Ken ganhou outros tipos, criando uma coleção para todos os gostos. E no filme, pegam essa época, com Barbies e Kens de todas as cores e etnias. Bom disfarce…mas todas são magras e lindas e perfeitas, como as bonecas.
Já tem uma Casa da Barbie real nos Estados Unidos, que você pode se hospedar. Dizem que acabaram com a tinta rosa das lojas para produzir essa casa. Estão criando todas as peças, vendendo tudo, agora a Barbie virou cool. Eu quero ver as meninas indo pra resenha de rosa! Hahaha!! Vou ficar observando o movimento. Curiosa pra ver até onde isso vai.
O positivo disso é ver a galera permitindo-se brincar, zoar. Esses tempos de vigília permanente, em que qualquer coisa pode gerar cancelamento, está muito chato. Ainda bem que fui jovem no Rio numa época que podíamos ser o que quiséssemos, éramos livres para nos vestir de hippie, ou cocota, usar cabelo Farah Fawcet, calça boca de sino emendada, ou roupa de lurex e meias Dancing Days, ser hetero ou bi ou gay sem ter que colocar plaquinha, e mudar de opinião quantas vezes quiséssemos. Na política, era todo mundo contra a ditadura, estavamos todos do mesmo lado, do contra.
Judith Adler